Os períodos eleitorais suscitam-me algumas reflexões e
análises. Ao voltarmos os olhos para um passado mais longínquo,
verificamos que na Índia Antiga, por exemplo, os reis tinham abertura e
humildade de consultar os Mestres espirituais iluminados sobre algumas
questões relativas aos seus reinos. A visão dos Seres Despertos é clara,
límpida e ampla. Dotados de muita sabedoria, têm o devido discernimento
para encontrar as raízes e as diversas faces de um problema, passo
fundamental para a resolução de qualquer tipo de dificuldade, na vida
pessoal ou na de uma nação.
O mundo mudou, as pessoas mudaram e
os valores se inverteram. Os governantes não procuram mais os sábios
para se aconselharem. Em seu lugar, na esfera política, surgiu a figura
do profissional da área de marketing político. Os marqueteiros,
contratados a peso de ouro, para assessorar os políticos ou aspirantes a
tal na construção do melhor perfil de suas imagens junto ao povo,
maquiam o candidato ao gosto do eleitor. Toda uma estrutura montada para
saber o que a população espera de um candidato político para tentar
enquadrá-lo dentro dessas expectativas. Nesse contexto, geralmente, o
candidato perde a sua autenticidade.
Dessa forma, a proposta não
é encontrar o sapato adequado para o tamanho do pé, mas cortá-lo, se
assim for preciso, para encaixá-lo na forma do sapato desejado. Grande
parte da luta pela vitória nas urnas, sobretudo nos cargos majoritários,
volta-se à construção da imagem e do discurso ideal para conquistar o
voto do eleitor.
E essa é uma das doenças da nossa sociedade: a
imagem passou a ter mais peso e importância do que o real. Por conta
disso, investem-se quantias milionárias. Há uma inversão de valores
muito grande e a imagem impera soberana sobre a realidade.
Então,
eu faço esta pergunta: se, para algo tão ilusório e efêmero como uma
imagem, convocam-se os melhores e mais brilhantes profissionais, por que
não se aplicar o mesmo empenho em relação à paz? Pelo que tenho
acompanhado nos noticiários, parece que se procura pela paz onde ela não
pode ser encontrada.
Para adquirirmos uma formação, estudamos
anos a fio em uma instituição de ensino regular, na qual temos inúmeros
professores, um para cada disciplina. Quem é expert em Matemática ensina
Matemática e não Língua Portuguesa, e assim por diante. Em relação à
paz, não deveríamos seguir o mesmo raciocínio e irmos em busca dos
Mestres da Paz, para que eles dividam conosco a sua compreensão e o seu
silêncio interior?
Os líderes políticos têm falado sobre a paz.
Mas eles entendem da política da paz ou da política manipuladora? São
íntimos do silêncio, da quietude ou do poder? Até que ponto estão,
realmente, empenhados na construção da paz se a própria política que
fazem é agressiva, dominadora e invasora? Será que, no nosso meio
político, há pessoas que conquistaram a paz de verdade, que se tornaram
seres equilibrados, pacíficos, simples, compassivos e felizes? Caso
contrário, como conduzirão uma sociedade para a paz e a harmonia se eles
mesmos ainda não a encontraram em suas vidas e desconhecem os seus
caminhos?
Se queremos a paz, além de assumir a nossa
responsabilidade individual e intransferível, cidadão por cidadão, que
passa pela conquista da paz interior, quer seja o presidente do país,
quer seja o lixeiro da nossa rua, seria de muito bom senso ter a
orientação daqueles que verdadeiramente a conhecem, que são íntimos dela
e se tornaram eles mesmos uma Ponte de Paz para a humanidade, como
Dalai Lama e outros mestres espirituais.
Diante dos graves e
incontáveis atos insanos que atentam contra a vida, algo que a nossa
sociedade necessita, com urgência premente, é de mais e mais pessoas em
equilíbrio consigo mesmas, com o outro e com a natureza. O nosso planeta
iria agradecer. O tempo todo, influenciamos uns aos outros com o nosso
estado emocional, mental e espiritual. Lastimavelmente, a questão da
cultura de paz na sociedade não é levada a sério pelos governantes. É
tratada como assunto de pouca ou nenhuma importância pela classe
política.
Os políticos até agora têm construído pontes de
concreto, algumas de uma beleza majestosa, infelizmente, estas não
serviram para fazer a travessia da grande massa do povo da margem da
miséria para o outro lado, no qual possam germinar as sementes de uma
vida com mais amor, justiça social e dignidade.
E, neste instante, recordo-me de uma frase de George Bernard Shaw: "Vemos as coisas como elas são e perguntamos: "Por quê?" Sonho com coisas que nunca existiram e pergunto: Por que não?"
Enildes Corrêia
terça-feira, 2 de outubro de 2012
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